Editorial

DR é uma revista de política e de cultura feita por mulheres. Surgiu da dificuldade de discutir política com homens e do desejo de conversar sem colocar o pau na mesa.

Não colocar o pau na mesa é discutir política sem ter que ganhar a discussão ou deter a razão final. Também não somos uma revista acadêmica feita por especialistas. Desejamos falar daquilo que não sabemos e dialogar com um público mais amplo. A política concerne a todos e se diz de muitas maneiras.

Nossa DR é anti-capitalista.

O capitalismo não é independente das produções subjetivas que engendra, dos usos da linguagem, das formas de vida que impõe. Por isso mesmo, construir alternativas é também prefigurar outras formas de falar e de se relacionar.

DR é uma proposta de conversa atenta ao tom, na qual seja possível ter voz sem precisar incorporar a linguagem da verdade. É o desejo de falar num tom que não é necessariamente feminino (de fato não sabemos exatamente o que isso significa), mas que recuse a autoridade e a expertise que são, de fato, hoje (ainda) exercidas majoritariamente por homens.

E, já que somos historicamente tachadas como emotivas, loucas e maníacas por DR, vamos fazer DR mesmo! E afirmar o sentido político dessa prática. Como em toda DR, não sabemos exatamente aonde isso vai dar. Mas só se faz DR com quem a gente se importa, e sobre assuntos que nos são cruciais. Nos importamos com o efeito de nossa fala, sabendo que é sempre possível retornar sobre as palavras, reconhecer seus equívocos, prestando atenção ao modo como afetam o seu destinatário. Isso também é fazer política. Fazer DR é, portanto, buscar se colocar em posição de igualdade diante dx outrx, apostar que a relação é o que importa. Um cuidado, uma atenção às conexões.