Chico foi por muito tempo a imagem do homem que entende as mulheres. O que salva. De tão escancarado nessa música nova, o mito derrete. Deixamos o lenço caído e quem sabe, um dia, aparece o homem por quem sempre estivemos esperando. Finalmente aquele que fica cada vez mais feliz mesmo com “nossas manhas”. Que vai fazer a cama, botar pra dormir. Largar mulher e filhos quando meu vigia (!) der bobeira.
Suspiros. De nostalgia, mas também de enfado.
Precisamos fazer o luto do amor romântico. Mais esse. Mais um luto a fazer. O amor tá de pé – o amor-do-jeito-que-der. Mas desse jeito aí da canção, na boa. O cara mais perfeito do mundo – o Chico – vai acabar te chamando de “minha nega”.
Chico é poeta e sabe disso tudo. Talvez até tenha feito de propósito. No final ele deixa escapar: quando eu não estiver mais aqui. Não está. Esse sonho de homem aí já deu. No mais é a lida, encontros e desencontros de sempre. Adeus, Chico.
P.S. Essa melodia é mágica e o compositor diz que se inspirou da música que Bach fez para Anna Magdalena (dizem as más línguas que ela era, de fato, compositora de muitas das músicas do marido). Tem uma conspiração no ar que a música capta. Por isso também que ela gruda desse jeito. A relação que não é mais possível com o Chico torna-se possível com a cantiga: segredo, feitiço, delicadeza, sedução e irritação. Tudo junto e misturado.